Sobre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) o historiador Manoel Salgado Guimarães afirmou:
Trecho de texto de Manoel Salgado Guimarães, intitulado “Nação e Civilização nos Trópicos – O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma História Nacional”.
Nação e Civilização nos Trópicos
Artigo acadêmico
“[…] [É ]no bojo do processo de consolidação do Estado Nacional que se viabiliza um projeto de pensar a história brasileira de forma sistematizada. A criação, em 1838, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) vem apontar em direção à materialização deste empreendimento.
(…)
Num processo muito próprio ao caso brasileiro, a construção da idéia de Nação não se assenta sobre uma oposição à antiga metrópole portuguesa; muito ao contrário, a nova Nação brasileira se reconhece enquanto continuadora de uma certa tarefa civilizadora iniciada pela colonização portuguesa. Nação, Estado e Coroa aparecem enquanto uma unidade no interior da discussão historiográfica relativa ao problema nacional”
(…)
Num processo muito próprio ao caso brasileiro, a construção da idéia de Nação não se assenta sobre uma oposição à antiga metrópole portuguesa; muito ao contrário, a nova Nação brasileira se reconhece enquanto continuadora de uma certa tarefa civilizadora iniciada pela colonização portuguesa. Nação, Estado e Coroa aparecem enquanto uma unidade no interior da discussão historiográfica relativa ao problema nacional”
A partir do texto acima podemos afirmar:
Alternativas
A. a monarquia brasileira tem no IHGB uma estratégia de recontar o nascimento da nação integrada em um grande território nacional formado por um mesmo processo histórico.
B. a unidade territorial do Brasil e seu governo centralizado no Rio de Janeiro correram sérios riscos de ruptura e fragmentação nas décadas de 1830-40.
C. dentre os temas de interesse do IHGB estavam a construção da nação brasileira rompendo com as matrizes portuguesas.
D. fundado em 1838, o IHGB atendia a formação do ideário do estado nacional do Brasil.
Comentário
Nessa questão, a partir de um texto que investiga a prática da escrita contemporânea da história do Brasil, esperava-se que a equipe pudesse identificar a relação entre a criação do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) e a criação e consolidação do Estado Nacional brasileiro. Cabia compreender que a formação desse novo Estado pretendia a unificação do território sob uma mesma história, sem contudo romper com sua herança portuguesa e nesse sentido o IHGB servia como agregador e propagador desse ideário.
AUXÍLIO:
A paternidade do passado
Artigo acadêmico
“Lisboa, 5 de outubro de 1839. Francisco Adolfo de Varnhagen decide escrever ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro oferecendo um exemplar da sua edição crítica do Roteiro do Brasil – também conhecido como Tratado descritivo do Brasil em 1587. Na carta cerimoniosa que acompanha a publicação, endereçada ao secretário do Instituto, o cônego Januário da Cunha Barbosa, o jovem letrado timidamente relata os resultados das suas primeiras experiências na pesquisa de documentos históricos. Nem de longe podia supor que a memória nacional haveria de consagrá-lo o pai da história do Brasil.
[…] Mas o erudito historiador-diplomata não se dedicava apenas aos tempos pretéritos e às escaramuças intelectuais. Preocupava-se com o presente e o futuro. Preparou numerosos pareceres, relatórios e informes para a chancelaria de d. Pedro II, sobretudo no que dizia respeito às negociações de limites do Império com as repúblicas hispano-americanas e as Guianas. Costumava afirmar que os políticos da Corte precisavam estar atentos às demandas nacionais e perder “o mau hábito de traduzir leis e a citar a Inglaterra e a macaquear os Estados Unidos”. Escreveu e publicou o Memorial Orgânico (1849-1850), em que identifica os principais problemas brasileiros da época, propondo uma série de iniciativas políticas e administrativas de grande alcance para Estado brasileiro, inclusive uma nova divisão territorial e a mudança da capital para o interior. Como complemento ao Memorial, ofereceu à Câmara dos Deputados, em 1856, o projeto de uma lei que propunha o estabelecimento do imposto territorial, a montagem de um cadastro imobiliário rural, bem como a concessão de incentivos à imigração e à colonização de terras devolutas.
A idéia de deslocar a sede do governo para o interior já havia sido aventada por Hipólito da Costa (1774-1823) e por José Bonifácio (1763-1838). Contudo, Varnhagen aperfeiçoou a proposta, fornecendo argumentos mais precisos. Os conhecimentos acumulados no estudo de antigos mapas do período colonial o levaram a inferir que o espaço ideal para abrigar a futura capital localizava-se entre três grandes vales – do Amazonas, do Prata e do São Francisco, nos chapadões do planalto de Goiás, vizinhos ao triângulo formado pelas lagoas Formosa, Feia e Mestre d’Armas: “É nessa paragem bastante central e elevada, donde partem tantas veias e artérias que vão circular por todo o corpo do Estado, que imaginamos estar o seu verdadeiro coração; é ai que julgamos deve fixar-se a sede do governo.”
Para verificar in loco suas deduções de homem de gabinete, licenciou-se das funções que desempenhava em Viena – onde assumira, em 1868, a chefia da legação brasileira no Império Austro-Húngaro – e empreendeu uma última viagem ao Brasil em 1876. Aos sessenta e um anos de idade, realizou, com recursos próprios, uma penosa excursão a cavalo até a província de Goiás, passando por São Paulo, Minas Gerais e Bahia, percorrendo antigas estradas e trilhas abertas pelos bandeirantes. Constatado o que pretendia, iniciou uma vigorosa campanha na imprensa em favor da interiorização da capital do Império. De volta ao posto diplomático no Império Austro-Húngaro, publicou, pouco antes de falecer, um livreto de 32 páginas intitulado A questão da capital: marítima ou no interior? (1877), no qual reuniu todas as informações coletadas e argumentos de que necessitava para reforçar seus pontos de vista. Sugeriu, ainda, que se começasse a fazer convergir para o local determinado as estradas de ferro de d. Pedro II (depois Central do Brasil) e da Companhia Mogiana. Delineava, assim, o caminho que — de fato — foi seguido, 90 anos mais tarde, pela ferrovia para Brasília.
Após a queda do regime monárquico, a proposta de Varnhagen reapareceria na Constituição da República (1891). O artigo 3º das Disposições Transitórias reservava para o domínio da União, no planalto central de Goiás, uma área de 14.400 km2, para a sede do governo federal. Este território foi demarcado pela Comissão Exploradora do Planalto Central, designada pelo presidente Floriano Peixoto, chefiada pelo engenheiro belga Luís Cruls (1848-1908), diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, entre 1892 e 1895. A Missão Cruls, como ficou conhecida, seguiu a trilha percorrida por Varnhagen, dirigindo-se diretamente ao sítio por ele apontado. Dissolvida a Comissão, a questão da mudança da capital só seria retomada pelas autoridades anos mais tarde, em cumprimento ao disposto na Constituição de 1946. Novas missões demarcadoras se sucederam e a matéria arrastou-se no Congresso por mais um longo período. De qualquer modo, a última comissão, denominada de Comissão de Localização da Nova Capital, em 1955, optou por uma área que correspondia à indicação original de Varnhagen, embora de menor extensão do que a estimada pelo sorocabano.
É inquestionável que Francisco Adolfo de Varnhagen foi o maior historiador de sua época, pela extensão da obra, dos fatos que revelou, das fontes documentais que descobriu, pela publicação de testemunhos inéditos, enfim, pelo seu enorme esforço e determinação. Contudo, a memória nacional que o reconhece como o pai da história do Brasil, ainda lhe deve um último tributo: o pioneirismo do plano da transferência da capital para as terras do planalto central. Sim, porque se a construção de Brasília é fruto da vontade política do presidente Juscelino Kubistcheck, do urbanismo arrojado de Lúcio Costa e do traço modernista da arquitetura de Oscar Niemeyer, a esses nomes cabe acrescentar o de Varnhagen, quem primeiro vislumbrou a paragem onde hoje se ergue a sede da República.”
A - 5 PONTOS
B - 4 PONTOS
C - 0
D - 1 PONTO
QUESTÃO 42:
Dom Pedro aclamado pelas ruas após a proclamação da Independência
Pintura histórica

Independência ou Morte (O grito do Ipiranga)
Pintura histórica

O quadro do pintor francês François-René Moreaux expressa uma percepção diferenciada do ato de independência do Brasil e assim de seu processo, sobretudo se comparado ao importante quadro de Pedro Américo situado no Museu Paulista, São Paulo.
Após observar as duas telas, pode-se afirmar que:
Alternativas
A. a independência no quadro de Moreaux valoriza a participação popular enquanto o de Pedro Américo valoriza a importância dos militares no processo.
B. o quadro de Pedro Américo dá ênfase muito maior à centralidade e hierarquia da figura do imperador.
C. a diferença entre os quadros se explica porque Pedro Américo era o pintor oficial da Corte e testemunhou a cena que retratou.
D. o quadro de Pedro Américo, assim como o próprio Museu do Ipiranga, consagraram-se como a representação visual e edificada da memória oficial da independência.
Comentário
A questão 42 trouxe para os participantes da Olimpíada um trabalho sofisticado com a memória visual e com a construção de uma narrativa histórica através de imagens). O primeiro quadro, de Moreaux, cedeu espaço para o “Grito do Ipiranga” de Pedro Américo, que se transformou, juntamente ao edifício do Museu Paulista que o abriga, numa espécie de celebração visual oficial do momento da Independência do Brasil. As alternativas convidavam as equipes a observar com calma e atenção os detalhes de ambos os quadros, conhecendo duas representações da proclamação da independência, observando como as personagens representadas, seu posicionamento em relação aqueles que as cercam podem contar cada qual uma “história” sobre o mesmo fato. Identificar a utilização desse e de outros tipos de obra como símbolo e registro de uma memória oficial consistia no aprofundamento da análise.VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 1 PONTO
B - 4 PONTOS
C - 0
D - 5 PONTOS
QUESTÃO 43:
Trecho da Fala do Trono proferida pelo Imperador Pedro I no início dos trabalhos da Assembléia constituinte de 1823.
Fala do Trono
Discurso
“Como Imperador Constitucional, e mui especialmente como Defensor Perpétuo deste Império, disse ao povo no dia 01 de dezembro do ano próximo passado em que fui coroado e sagrado – que com a minha espada defenderia a Pátria, Nação e a Constituição, se fosse digna do Brasil e de mim…, uma Constituição em que os três poderes sejam bem divididos… uma Constituição que, pondo barreiras inacessíveis ao despotismo quer real, aristocrático, quer democrático, afugente a anarquia e plante a árvore da liberdade a cuja sombra deve crescer a união, tranqüilidade e independência deste Império, que será o assombro do mundo novo e velho. Todas as Constituições, que à maneira de 1791 e 1792 têm estabelecido suas bases, e se têm querido organizar, a experiência nos tem mostrado que são totalmente teóricas e metafísicas, e por isso inexeqüíveis: assim o prova a França, a Espanha e, ultimamente, Portugal. Elas não tem feito, como deviam, a felicidade geral, mas sim, depois de uma licenciosa liberdade, vemos que em uns países já aparecem, e em outros ainda não tarda a aparecer, o despotismo em um, depois de ter sido exercido por muitos, sendo conseqüência necessária ficarem os povos reduzidos à triste situação de presenciarem e sofrerem todos os horrores da anarquia.”
No documento acima temos a “Fala do Trono” proferida pelo Imperador Pedro I no início dos trabalhos da Assembléia constituinte de 1823.
Segundo o trecho do documento podemos dizer que Dom Pedro I:
Alternativas
A. relacionava a Constituição Brasileira à sua própria pessoa, demonstrando a centralização e dominação que caracterizaram o seu governo.
B. dava total liberdade à Assembléia para formular a Constituição a partir das bases democráticas.
C. criticava as constituições de países como a França, Espanha e Portugal, considerando-as impossíveis de se realizarem.
D. criticava os ideais da Revolução Francesa, considerando o
despotismo e a anarquia como conseqüências daquele movimento.
Comentário
Nessa questão que trazia o interessante documento “Fala do Trono” era importante, além de identificar as aspirações de Pedro I quanto ao que esperava que fosse produzido pela Assembléia Constituinte de 1823, o tipo de governo que pretendia instaurar e as críticas que fazia a governos mais liberais. A relação entre a Constituição que Pedro I almejava e as suas críticas aos ideais da Revolução Francesa, que embora não citada no trecho menor, o permeia pela oposição às suas idéias e seguidores.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 4 PONTOS
B - 0
C - 1 PONTO
D - 5 PONTOS
QUESTÃO 44:
Luzia
Artigo acadêmico
Nos últimos 20 anos vários pesquisadores vêm sugerindo que a ocupação da América seria mais antiga, mas, há pouco tempo, surgiram provas convincentes. Entre elas está Luzia, cujos estudos trouxeram ainda outras novidades.
No município de Pedro Leopoldo, região de Lagoa Santa, Minas Gerais, um grupo de arqueólogos brasileiros e franceses encontrou, em 1975, partes de um esqueleto em uma gruta chamada Lapa Vermelha IV. As informações iniciais sugeriam que o esqueleto (de uma mulher entre 20 e 25 anos de idade – Luzia) deveria ser muito antigo, mas naquela época não foi possível datar com precisão o material. (…)
Só a partir das pesquisas feitas [por] Walter Neves, da Universidade de São Paulo, Luzia teve sua idade revelada. O resultado foi surpreendente: ela tinha vivido em Minas Gerais há 11.500 anos! Essa data, junto com outros vestígios de populações pré-históricas que teria vivido há mais de 11.000 anos nas Américas do Sul e do Norte, revelou que o povoamento do nosso continente ocorreu antes do que se pensava. Apesar de existir muita discussão sobre o tempo necessário para que todo o continente tenha sido ocupado, a presença de humanos na América do Sul há 11.500 anos indica que os primeiros migrantes teriam chegado no continente americano há pelos menos 14.000 ou 15.000 anos.
Hoje, muitos cientistas já admitem que a primeira migração deva ter ocorrido entre 15.000 e 20.000 anos. Mas há pesquisadores que admitem até 50.000 anos! Os dados que existem ainda não são suficientes para que possamos chegar a uma conclusão.
Sobre pré-história:
Norberto Luiz Guarinello. Os Primeiros Habitantes do Brasil. São Paulo: Atual Editora, 2009 (15ª Ed.)
Norberto Luiz Guarinello. Os Primeiros Habitantes do Brasil. São Paulo: Atual Editora, 2009 (15ª Ed.)
Sobre o tema da questão:
Walter Alves Neves, Luis Beethoven Pilo. O povo de Luzia: em busca dos primeiros americanos. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2008.
Walter Alves Neves, Luis Beethoven Pilo. O povo de Luzia: em busca dos primeiros americanos. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2008.
Ou ainda:
Walter A. Neves; João Paulo V. Atui. “O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas”. In: Revista de Antropologiavol.47 no.1 São Paulo, 2004.
Walter A. Neves; João Paulo V. Atui. “O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas”. In: Revista de Antropologiavol.47 no.1 São Paulo, 2004.
O texto sobre descobertas arqueológicas no atual território brasileiro revela que:
Alternativas
A. existe uma pré-história na América do Sul
B. assim como em outras áreas do conhecimento histórico, uma nova descoberta permite novas interpretações sobre o passado
C. a datação de Luzia permitiu retroceder a época da presença humana no continente americano
D. o conhecimento sobre o passado remoto não tem base científica e por isso as datas podem apresentar enormes diferenças
Comentário
A importância da descoberta cientifica para a construção do conhecimento histórico era o foco central dessa questão. Desejava-se aqui que a equipe pudesse identificar a contribuição das novas descobertas arqueológicas para o estudo da pré-histórica da América do Sul e os avanços trazidos pelas novas descobertas e técnicas científicas para um conhecimento do passado mais remoto. Como aprofundamento era esperada a compreensão que um novo conhecimento pode trazer não apenas informações novas sobre um mesmo tema, mas principalmente produzir novas interpretações sobre ele.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 1 PONTO
B - 5 PONTOS
C - 4 PONTOS
D - 0
QUESTÃO 45:
Em entrevista de março de 2007, a historiadora Angela de Castro Gomes respondeu sobre o federalismo nas décadas de 1930-40 no Brasil.
“Liberdade não é de graça” - Trecho de entrevista com Angela de Castro Gomes. Revista de História da Biblioteca Nacional, 01/03/2007.
Liberdade não é de graça
Entrevista
Revista de História O Estado destrói as autonomias regionais?
Angela de Castro Gomes No pós-30, houve um projeto para fortalecer o poder do Estado, um processo de centralização política, tendo como alvo o federalismo. A Primeira República é o espelho do federalismo excessivo, que fazia com que o Brasil fosse atrasado e ineficiente, por culpa do liberalismo, naturalmente. O antifederalismo é muito presente nos confrontos políticos do pós-30. A defesa das autonomias políticas estaduais se transforma na defesa de interesses locais, espúrios e até danosos à unidade nacional, porque podem levar à guerra civil, como em 32. É depois de 1930 que se oficializa uma divisão do Brasil em regiões. Inclusive no mapa, na representação cartográfica. “Inventa-se” um Brasil que tem o Nordeste, o Norte, o Sul, o Centro-Oeste. Aí, povoa-se esse mapa com tipos regionais. Um Brasil de geografia humana, que tem cultura, traduzida em formas de alimentação, danças, atividades econômicas. Daí os personagens-símbolo: a rendeira, o seringueiro, o vaqueiro do Pampa, o vaqueiro do Nordeste. As regiões têm características, têm solidariedades, têm marcas e têm problemas. E o Brasil, na verdade, é esse conjunto diversificado, mas uno ao mesmo tempo. Porque neste Brasil, entre outras coisas, só se fala o português. Você constrói ao mesmo tempo marcas de unidade e marcas de diversidade que são regionais, ou seja, não passam por questões político-administrativas, não passam pelo federalismo. Há uma unidade política demarcada por um Estado forte e centralizado, mas que comporta a diversidade cultural.
Alternativas
A. o fortalecimento do Estado implicou uma nova política cultural em relação às regiões, gerando personagens e hábitos “típicos”.
B. a historiadora indica a formação de tipos regionais a partir de 1930 sem, no entanto, afirmar o federalismo como estrutura política.
C. foi no período mencionado que nasceram as divisões regionais do país, tais como as conhecemos hoje.
D. a historiadora indica que não se associava federalismo à possibilidade de guerra civil.
Comentário
Na questão 45, cabia às equipes, a partir do trecho da entrevista, identificar os principais argumentos de Ângela Castro Gomes em sua interpretação sobre a relação entre fortalecimento do Estado e as autonomias regionais. Para a historiadora o fortalecimento do poder do Estado no pós-30 teve em sua base o antifederalismo, a luta contra os interesses locais e o risco de guerra civil. Por fim, cabia identificar que nesse mesmo momento de fortalecimento e centralização de poder produz-se a divisão do Brasil em regiões e criam-se os tipos regionais. Nessa argumentação, os tipos regionais não são descobertos: eles são criados.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 4 PONTOS
B - 5 PONTOS
C - 1 PONTO
D - 0
QUESTÃO 46:
Da solidariedade à assistência
Artigo acadêmico
“A criação de formas associativas voltadas ao atendimento das demandas dos trabalhadores por proteção frente à doença, à velhice, ao desemprego e às condições adversas ligadas à morte de um familiar tem sido talvez um dos elementos mais característicos do movimento operário em diferentes contextos históricos. Tão antiga quanto a existência do mutualismo é também a polêmica sobre o seu papel no desenvolvimento de um processo de organização classista e de luta pelos interesses coletivos dos trabalhadores.
No caso brasileiro, ao menos desde o primeiro Congresso Operário nacional, em 1906, importantes correntes políticas no interior do sindicalismo têm denunciado as organizações mutualistas como sendo nocivas ao desenvolvimento de uma consciência de classe. A estrutura assistencial no interior dos sindicatos oficiais, tornou-se também objeto de crítica das políticas sindicais de comunistas e outros setores da esquerda brasileira, particularmente a partir dos anos 50, e a inclusão da prestação de assistência médica e outros serviços sociais como parte das finalidades dos sindicatos seria um dos principais elementos de crítica do novo sindicalismo de fim dos anos 70 e da Central Única dos Trabalhadores à Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) de 1943.
A historiografia também contribuiu para a estigmatização das atividades identificadas como “assistenciais”, através da construção de um modelo teleológico de desenvolvimento do movimento operário. Nele, as sociedades de mútuo-socorro são entendidas como estágio pré-histórico do sindicalismo, correspondente a uma solidariedade espontânea gerada pela vivência coletiva dos infortúnios a que se encontrava exposto o operariado pela ausência de direitos sociais (…)
Assim, como imaturidade ou como tutela, a assistência consagrou-se nas análises da trajetória do sindicalismo brasileiro como um dos símbolos mais marcantes da sua debilidade.
(…)
A historiografia também contribuiu para a estigmatização das atividades identificadas como “assistenciais”, através da construção de um modelo teleológico de desenvolvimento do movimento operário. Nele, as sociedades de mútuo-socorro são entendidas como estágio pré-histórico do sindicalismo, correspondente a uma solidariedade espontânea gerada pela vivência coletiva dos infortúnios a que se encontrava exposto o operariado pela ausência de direitos sociais (…)
Assim, como imaturidade ou como tutela, a assistência consagrou-se nas análises da trajetória do sindicalismo brasileiro como um dos símbolos mais marcantes da sua debilidade.
(…)
Toda esta variedade de debates (…) serve, acima de tudo, para atestar o vigor e a continuidade das práticas mutualistas. A um observador externo, em 1925, parecia claro que:
“Os objetivos primordiais dos sindicatos no Brasil parecem ser proteger seus membros quando enfermos e prover serviços profissionais que de outra maneira não seriam acessíveis, tais como, por exemplo, o tratamento médico e dental a baixo custo. A cooperação entre os membros da mesma organização em serviços comuns reduz grandemente o custo de vida, que é muito alto no Brasil. Essas organizações são muito ativas socialmente, algumas delas dedicando a isso mais tempo e dinheiro para promover assuntos sociais do que para a melhoria das condições de trabalho.”(James A. ROWAN. “Old-age and disability retirement law for railway
employees in Brazil”, Monthly Labor Review, vol. XXI, n° 6, Washington,
December 1925.)
“Os objetivos primordiais dos sindicatos no Brasil parecem ser proteger seus membros quando enfermos e prover serviços profissionais que de outra maneira não seriam acessíveis, tais como, por exemplo, o tratamento médico e dental a baixo custo. A cooperação entre os membros da mesma organização em serviços comuns reduz grandemente o custo de vida, que é muito alto no Brasil. Essas organizações são muito ativas socialmente, algumas delas dedicando a isso mais tempo e dinheiro para promover assuntos sociais do que para a melhoria das condições de trabalho.”(James A. ROWAN. “Old-age and disability retirement law for railway
employees in Brazil”, Monthly Labor Review, vol. XXI, n° 6, Washington,
December 1925.)
É possível que o autor desta avaliação estivesse excessivamente influenciado pela realidade particular dos ferroviários, certamente entre as categorias com o sistema de
benefícios mais amplos do país, incluindo Caixas de Aposentadoria e Pensão que se transformaram em modelo para a reivindicação dos demais trabalhadores. De todo modo, três elementos conflitantes relacionados às práticas de mutualidade estão nela claramente apontados: elas atendem a necessidades que provavelmente estariam fora de alcance dos trabalhadores de outro modo; contribuem para a vitalidade associativa dos sindicatos; por outro lado, elas podem desviar energias da luta reivindicatória.
benefícios mais amplos do país, incluindo Caixas de Aposentadoria e Pensão que se transformaram em modelo para a reivindicação dos demais trabalhadores. De todo modo, três elementos conflitantes relacionados às práticas de mutualidade estão nela claramente apontados: elas atendem a necessidades que provavelmente estariam fora de alcance dos trabalhadores de outro modo; contribuem para a vitalidade associativa dos sindicatos; por outro lado, elas podem desviar energias da luta reivindicatória.
Sugestões de leitura:
Kenneth Erickson. Sindicalismo no processo político no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1979.
Wanderley Guilherme dos Santos. Cidadania e Justiça: a politica social na ordem brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 1987.
Francisco Foot Hardman e Victor Leonardi. História da Indústria e do Trabalho no Brasil. São Paulo: Ed. Ática, 1982.
O texto acima indica que:
Alternativas
A. mutualismo, assistencialismo e sindicalismo possuíam fins diversos dentro dos objetivos do movimento operário.
B. os traços do mutualismo das primeiras associações persistiram dentro das organizações sindicais.
C. parte da historiografia sobre movimento operário rejeitou a tradição assistencialista por considerá-la prejudicial à causa operária.
D. a classe trabalhadora buscava independência dos tratamentos médicos a ela proporcionados pelo Estado centralizador brasileiro.
Comentário
Nesta questão a equipe deveria atentar para, dentro da historiografia do movimento operário, a questão do assistencialismo, mutualismo e sindicalismo, num texto que utiliza, em sua argumentação, documentação histórica específica. O material com a crítica feita ao assistencialismo dentro do movimento operário no Brasil e o tom de denúncia proveniente do próprio movimento operário proporcionava à equipe condições de inferiras divergências de pensamento dentro do sindicalismo brasileiro, uma vez que, segundo correntes políticas dos sindicatos, o mutualismo faria com que o trabalhador não se conscientizasse dos fins últimos de sua luta política e, consequentemente, isto abriria portas para o assistencialismo oferecido inclusive pelo Estado, controlando, dessa forma, os sindicatos e prejudicando a causa operária. Mais além, o texto mostrava a sobrevivência de características próprias do assistencialismo (como os auxílios em caso de doença) dentro das organizações sindicais brasileiras.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 1 PONTO
B - 5 PONTOS
C - 4 PONTOS
D - 0
QUESTÃO 47:
Trecho de livro de Francisco Doratioto, Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.p. 79-80.
Maldita Guerra
Livro
Documento da 4ª Fase
“[No Brasil], nas décadas de 1960 e 1970, o revisionismo sobre a Guerra do Paraguai [explicava-a] (…) como o confronto entre duas estratégias de crescimento: a paraguaia, sem dependência dos centros capitalistas, e a da Argentina e do Brasil, dependente do ingresso de recursos financeiros e tecnológicos estrangeiros. Para o revisionismo, estes dois países teriam sido manipulados por interesses da Grã-Bretanha, maior potência capitalista à época, para aniquilar o desenvolvimento autônomo paraguaio, abrindo um novo mercado consumidor para os produtos britânicos e fornecedor de algodão para as indústrias inglesas, matéria-prima cujo fornecimento fora prejudicado pela Guerra Civil norte-americana. (…)
Esses argumentos não se sustentam factualmente.
Os pressupostos e conclusões desse revisionismo sofreram forte influência no contexto em que foram escritos. As décadas de 1960 e 1970 caracterizaram-se, na América do Sul, por governos militares. Uma forma de se lutar contra o autoritarismo era minando suas bases ideológicas. Daí, em grande parte, a acolhida acrítica e o sucesso em meios intelectuais do revisionismo sobre a Guerra do Paraguai. (…)”
Esses argumentos não se sustentam factualmente.
Os pressupostos e conclusões desse revisionismo sofreram forte influência no contexto em que foram escritos. As décadas de 1960 e 1970 caracterizaram-se, na América do Sul, por governos militares. Uma forma de se lutar contra o autoritarismo era minando suas bases ideológicas. Daí, em grande parte, a acolhida acrítica e o sucesso em meios intelectuais do revisionismo sobre a Guerra do Paraguai. (…)”
Alternativas
A. as interpretações sobre os processos históricos sofrem as influências do tempo em que vivem os historiadores, mesmo que distante do episódio narrado.
B. Brasil e Argentina, a serviço da Grã-Bretanha, são os responsáveis pelo atraso econômico do Paraguai.
C. as explicações históricas são marcadas pelo contexto em que são escritas, e também constantemente reelaboradas.
D. as explicações sobre a Guerra do Paraguai nos anos 1960 e
1970 comportam aspectos políticos, econômicos e diplomáticos.
Comentário
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 4 PONTOS
B - 0
C - 5 PONTOS
D - 1 PONTO
QUESTÃO 48:
Trecho de artigo acadêmico de Lucia Lippi Oliveira. “Cultura brasileira nesse fim de século”. In: Maria Angela D´Incao (org.) O Brasil não é mais aquele... mudanças sociais após a redemocratização. S. Paulo: Cortez, 2001. pp. 32-33.
Cultura brasileira nesse fim de século
Artigo acadêmico
“Como analisar a cultura popular brasileira quando a cultura internacionalmente popular se faz cada vez mais presente no Brasil? Se o samba e o carnaval podem ser tomados como exemplos máximos da construção a partir dos anos 30 e 40 da cultura nacional-popular, o funk carioca pode ser tomado como um exemplo da cultura internacional-popular. Outras manifestações dessa cultura podem ser o rock, que teve em Brasília um espaço preferencial, ou o axé music da Bahia, o que aponta para uma pluralidade, uma diversidade de expressões artísticas.
A pesquisa de Hermano Vianna sobre o funk (1988) foi pioneira e mostrou como pessoas e grupos captaram, receberam e transformaram uma música de certos grupos norte-americanos e produziram um fenômeno cultural no Rio de Janeiro, onde um milhão de jovens frequentam bailes todos os sábados e domingos. Esse é certamente um forte exemplo da capacidade de juntar, fundir, recriar traços de diferentes origens em uma nova expressão cultural. (…)
Nos dias de hoje pode-se falar, não da existência de dois Brasis, mas na emergência de vários Brasis, como tem aparecido nos meios de comunicação. A Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos [SP] (…) expõe uma face nova já que ali o country aparece como padrão cultural. A população do município salta de 110 mil habitantes para 1,2 milhão durante a festa. Nela, o rural é valorizado como tema, inclusive em sua conexão com o country norte-americano, algo muito distante do mundo rural como arcaico, caipira, sertanejo. A Festa do Boi em Parintins, no Amazonas, realizada no Bumbódromo (parente do Sambódromo?) reinterpreta manifestação cultural das mais antigas e tradicionais do norte e nordeste do país e ao atrair patrocinador de peso consegue a divulgação nacional da festa. A Festa de São João em Caruaru, Pernambuco; a reunião de amantes da literatura e da poesia (…) acontece anualmente em Passo Fundo, Rio Grande do Sul e encanta os que dela participam. E os exemplos não param, mostrando a grande colcha de retalhos com os diferentes pedaços de país.”
Glossário:
“A pesquisa de Hermano Vianna sobre o funk (1988) foi pioneira…”
[a autora refere-se ao livro de Hermano Vianna, O mundo funk carioca. Rio de Janeiro: Zahar, 1988]
Mais sobre o tema:
Mais sobre o tema:
No blog de Vianna, em que disponibiliza outros textos e imagens, o autor comenta o que mudou no baile funk desde que escreveu esse livro. Confira:
“Meu livro O Mundo Funk Carioca está esgotado há muito tempo. Culpa minha. Minha querida editora, Cristina Zahar, bem que tenta, todo ano, que eu escreva uma nova introdução para um relançamento. Ela tem toda razão: o baile funk carioca mudou radicalmente de 1988 (data da primeira edição) para hoje. Por exemplo: era 100% música importada, hoje é 100% música nacional. Ou: era totalmente desconhecido na Zona Sul… “
Para uma abordagem recente a respeito da mulher que canta funk -“a funkeira” – leia a reportagem no jornal da Unicamp de 28/09/2009.
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2009/ju443_pag12.php
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2009/ju443_pag12.php
Analisando as manifestações culturais recentes no Brasil o texto aponta:
Alternativas
A. o papel da mídia na divulgação das festas populares.
B. os aspectos locais e internacionais que interagiram na configuração de novas práticas culturais no Brasil.
C. que o verdadeiro patrimônio cultural brasileiro, o samba, perdeu espaço por causa da globalização e dos meios de comunicação.
D. as relações entre cultura nacional e internacional, bem como a idéia de uma cultura popular e de massas não contraposta a uma de elite.
Comentário
A cultura nacional, a partir de um tema como o funk ou outras expressões, foi o grande tema das questões 48 e 49. O texto indicava a diversidade cultural no país, no confronto entre o nacional e o estrangeiro, entre o Brasil urbano e o Brasil rural. As equipes, a partir do tema, podiam questionar os preconceitos em relação a certas manifestações de massa ou populares, ou a própria existência de uma cultura popular (contraposta ou não a uma de elite). Nesse debate, que dialogava com a questão 45, que estabelecia a criação da idéia do que é “típico” para cada região, ficava questionada a idéia de uma única manifestação como essencialmente brasileira (o samba, por exemplo).
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 1 PONTO
B - 4 PONTOS
C - 0
D - 5 PONTOS
QUESTÃO 49:
Ainda a partir do texto abordado na questão 48, sobre a expressão “dois Brasis”, analisada sob a perspectiva das práticas culturais, sugere-se que:
Alternativas
A. o samba foi construído como o principal produto cultural do país no século passado e atualmente continua sendo um produto cultural importante ao lado de outras práticas diversificadas.
B. os dois Brasis são o Brasil rural e o urbano.
C. mesmo havendo diferentes manifestações culturais, o sentimento nacional caracteriza cada uma das festas citadas, havendo um único Brasil.
D. os “dois Brasis” foram superados pela dinâmica cultural que inclui a convivência entre práticas nacional-populares e internacional-populares.
Comentário
A questão 49, utilizando o mesmo texto da questão 48, incidia especificamente sobre a expressão “dois Brasis” (o rural e o urbano), uma dualidade que o próprio texto indicava estar superada pelos encontros entre as manifestações populares de cunho nacional e internacional. Mais uma vez, aquele que busca entender alguns aspectos de como foi construído aquilo que parece tão natural e sempre existente.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 4 PONTOS
B - 1 PONTO
C - 0
D - 5 PONTOS
QUESTÃO 50:
Trecho de “Divertimento Admirável para os historiadores observarem as máquinas do mundo reconhecidas nos sertões da navegação das minas de Cuiabá e Mato Grosso” de Manoel Cardoso de Abreu.
Divertimento Admirável
Documento
“É a cidade de São Paulo cabeça da capitania, onde residem os generais e bispos e tem duas comarcas – uma da sua ouvidoria e outra da vila de Paranaguá. Os habitadores da cidade vivem de várias negociações: uns se limitam a negócio mercantil, indo à cidade do Rio de Janeiro buscar as fazendas para nela venderem; outros, da extravagância de seus ofícios; outros vão a Viamão buscar tropas de animais cavalares ou vacuns para venderem, não só aos moradores da mesma cidade e seu continente como também os andantes de Minas Gerais e exercitam o mesmo negócio vindo comprar os animais em São Paulo para os ir vender a Minas, e outros, finalmente, compram alguns efeitos da mesma capitania, como são panos de algodão e açúcar, e vão vender às Minas, labutando nesta forma todos naquilo a que se aplicam.
É a cidade aprazível pelo terreno e saudável pelos ares e não é muito pequena, pois se conhece a sua grandeza pelo número das ruas, cujas são: de São Bento, Direita, de São Francisco, das Casinhas, da Freira, de São Gonçalo, da Sé, das Flores, do Carmo, que é onde está o palácio dos generais, do Rosário, da Quitanda e Nova de Guaçu, todas elas com suas travessas correspondentes, com o defeito, porém, de serem a maior parte das casas térreas e as ruas mal ordenadas e mal calçadas.
Tem vários templos, como são: a Sé, os conventos do Carmo e de São Francisco, São Bento, Santa Teresa, São Pedro, o Colégio que foi dos denominados jesuítas, em que assiste o bispo, o da Misericórdia, de Santo Antônio, Rosário dos Pretos e São Gonçalo dos Pardos, entre os quais tem alguns bem acabados e magníficos, e fora da cidade, em distância de trezentas braças mais ou menos, está o recolhimento da Luz, onde vão os magnatas da cidade e o mais plebeu, por passeio, divertir-se”.
Alternativas
A. indica-se a importância do comércio de animais (muares, gado etc.) na atividade econômica do século XVIII.
B. a denominação dos templos e conventos (Misericórdia, Rosário dos Pretos) indica o grupo identitário a que seus freqüentadores pertenciam.
C. São Paulo no século XVIII, bem menor do que hoje em dia, já possuía uma malha urbana com ruas, igrejas e comércio.
D. já vemos as razões do enorme crescimento da cidade de São Paulo, que a transformou, no século seguinte, na maior malha urbana do país: o comércio com outras regiões do Brasil.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 4 PONTOS
B - 5 PONTOS
C - 1 PONTO
D - 0
QUESTÃO 51:
Ainda sobre o texto abordado na questão 50 e os seus conhecimentos em história, pode-se afirmar que:
Alternativas
A. São Paulo, no texto descrita com vários detalhes, era no fim do século XVIII muito menor do que Salvador ou Rio de Janeiro.
B. Cardoso de Abreu nos mostra uma São Paulo com forte presença da Igreja católica.
C. a cidade possuía um local de diversão que atendia os diferentes grupos sociais, inclusive os escravos.
D. São Paulo é descrita como “a cabeça da capitania”, não somente por sua riqueza mas por ser local da residência de autoridades militares e religiosas.
Comentário
A questão 51 prosseguia utilizando o mesmo passeio descritivo da cidade oferecido por Manuel Cardoso de Abreu “para divertimento do historiador”, e dessa vez as equipes deveriam estar atentas, além das informações extraídas do próprio texto (como o motivo de São Paulo ser cabeça de capitania), que a cidade, hoje a maior capital do país, era uma cidade muito menor em tamanho, população ou importância do que Salvador ou Rio de Janeiro.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 5 PONTOS
B - 1 PONTO
C - 0
D - 4 PONTOS
QUESTÃO 52:
Adaptado a partir de livro de Nelson Sanjad. Emílio Goeldi (1859-1917) a aventura de um naturalista entre a Europa e o Brasil. Rio de Janeiro: EMC, 2009.
Emílio Goeldi - A Aventura de um Naturalista
Livro
No século XIX, muitos cientistas europeus e norte-americanos sentiram-se atraídos pela América Latina (…) Todas essas viagens comungaram de uma mentalidade que valorizava o contato com o mundo natural, a descoberta, o inventário e a descrição. Todas contribuíram, em maior ou menor grau, para a criação de um mercado global de livros, instrumentos, coleções e postos de trabalho (…)
Botânicos, zoólogos, geólogos, antropólogos e engenheiros, profissionais e amadores, homens e mulheres, de origens sociais e identidades nacionais distintas, cruzaram o oceano em busca de conhecimento, prestígio e trabalho (…)
O zoólogo suíço Emílio Augusto Goeldi (1859-1917) (…) é mais um elo dessa cadeia de homens e mulheres que lançaram seus olhos para a América Latina.

Introdução de livros de Emílio Goeldi

Carta circular de Emílio Goeldi

Alternativas
A. dentre as várias missões científicas que acorreram ao Brasil após a transferência da Corte para o Rio de Janeiro, destaca-se a Missão Austríaca com os naturalistas Karl Phillip Von Martius (1794-1843) e Johann Batiste Von Spix (1781-1826).
B. restam atualmente poucas provas das visitas dos cientistas naturalistas estrangeiros, pois a coleta de espécimes de animais e plantas era proibida pelo governo brasileiro.
C. ao longo do processo de ampliação de instituições científicas na América Latina, foram criados museus, jardins botânicos e laboratórios, gerando um conhecimento científico de relevo internacional.
D. ao longo do século XIX, foi freqüente o intercâmbio entre cientistas e a comunicação de suas descobertas.
Comentário
Um Museu de Ciências abrigando uma Olimpíada de História do Brasil não resistiu a trazer uma questão que tocasse o tema da história da ciência. A presença de estudiosos europeus da fauna e flora americanas foi freqüente no século XIX, especialmente depois da vinda da família real ao Brasil. A criação das primeiras instituições científicas, como de museus de história natural (no Rio de Janeiro), também se deu a partir desse evento. No segundo império e em tempos republicanos, essa prática expandiu-se para outras regiões do país. Gerava-se desse modo um intercâmbio e um conhecimento científico que extrapolavam as fronteiras nacionais.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 4 PONTOS
B - 0
C - 5 PONTOS
D - 1 PONTO
QUESTÃO 53:
Os historiadores Luis Carlos Villalta e André Pedroso Becho afirmaram:
Trecho de artigo de Luis Carlos Villalta e André Pedroso Becho intitulado Abaixo o João Bobão. Revista de Historia da Biblioteca Nacional, jan. 2008, ano 3, n. 28, p. 76-7.http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1359
Abaixo o João Bobão
Artigo acadêmico
Quando lembradas, a transferência da Corte portuguesa para o Brasil e suas personagens costumam receber um tratamento simplista e caricato. (…) Os principais meios de comunicação como cinema, teatro e televisão, têm contribuído para a produção e difusão desses estereótipos, tornando-o senso comum entre os brasileiros. Quem não se lembra do filme “Carlota Joaquina”, de Carla Camurati ou da minissérie “Quinto dos Infernos” da TV Globo, paródias sobre esse momento histórico? E de suas personagens, o bobão D. João e a ninfomaníaca, grotesca e ambiciosa D. Carlota?
Frequentemente, o ensino de história, em vez de acompanhar as inovações da historiografia, reproduz as caricaturas dos filmes e da TV como “ilustração” do que se viu nas aulas, ou seja, como “verdades históricas”, sem qualquer reflexão crítica. Em vez de subverter o cânone, utilizando estas produções como fontes a serem discutidas, a escola o reitera.
Perde-se, assim, a oportunidade de abordar em sala de aula toda a complexidade e a importância daquele período além de dispensar a análise do momento político e cultural em que as referidas obras de ficção foram produzidas. Os anos de permanência da Corte no Brasil (1808-1821) trouxeram mudanças radicais na vida e nos costumes da antiga colônia. Nesse processo, D. João, longe de ser bobalhão, mostrou-se um político hábil.
Frequentemente, o ensino de história, em vez de acompanhar as inovações da historiografia, reproduz as caricaturas dos filmes e da TV como “ilustração” do que se viu nas aulas, ou seja, como “verdades históricas”, sem qualquer reflexão crítica. Em vez de subverter o cânone, utilizando estas produções como fontes a serem discutidas, a escola o reitera.
Perde-se, assim, a oportunidade de abordar em sala de aula toda a complexidade e a importância daquele período além de dispensar a análise do momento político e cultural em que as referidas obras de ficção foram produzidas. Os anos de permanência da Corte no Brasil (1808-1821) trouxeram mudanças radicais na vida e nos costumes da antiga colônia. Nesse processo, D. João, longe de ser bobalhão, mostrou-se um político hábil.
Para saber mais:
José Murilo de Carvalho. “D. João e as histórias dos Brasis”. In: Revista Brasileira de História, vol.28 no.56, São Paulo 2008.
Alternativas
A. filmes e séries de TV que retratam uma época têm também uma historicidade própria.
B. o processo de metropolização/urbanização do Rio de Janeiro entre 1808-21 pode ser interpretado como uma habilidade governativa de D. João ao transformar esta cidade na capital do império luso-brasileiro.
C. ao se considerar D. João como um glutão, figura tola, se compreende o comentário de Napoleão Bonaparte sobre ele: “O único a me tapear em todos os tempos”.
D. a transferência da corte, nesta abordagem, foi mais uma estratégia político-diplomática-militar do que uma apressada debandada da família real.
Comentário
A questão evidencia duas imagens construídas sobre D. João: a do glutão, inábil politicamente, e a do estadista capaz e preparado, que desenvolveu uma nova capital nos trópicos, além de manter a integridade do império luso. As duas interpretações têm historicidades que são por vezes elididas em obras de divulgação como filmes e séries de TV, o que se agrava, conforme dizem os autores do texto, quando estes materiais “divertidos” são utilizados sem qualquer reflexão crítica.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 1 PONTO
B - 4 PONTOS
C - 0
D - 5 PONTOS
QUESTÃO 54:
Ainda sobre tema e texto da questão 53, pode-se afirmar que:
Alternativas
A. em função das Guerras Napoleônicas na Europa e da invasão francesa em Portugal, a Corte portuguesa transferiu-se para o Brasil.
B. re-encenações da chegada da Família real ao Rio de Janeiro feitas em geral em filmes e minisséries servem muito mais ao divertimento e ao senso comum do que o conhecimento histórico.
C. a versão caricaturada da monarquia luso-brasileira atendeu ao ideário republicano.
D. O humor na história ativa a reflexão crítica e contribui para o aprofundamento das análises.
Comentário
Enquanto na questão anterior, a 53, era importante perceber a transferência da Corte por parte de D. João mais como estratégia política do que como fuga em desvario, na questão 54, que utilizou do mesmo texto crítico, continuou-se a trabalhar com os usos políticos da figura de D. João. A transformação da imagem de D. João em uma caricatura foi um mecanismo usado pelos republicanos para declarar a primazia da República sobre o Império.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 4 PONTOS
B - 1 PONTO
C - 5 PONTOS
D - 0
QUESTÃO 55:
A cronologia abaixo feita pelo historiador Luciano Figueiredo arrola os levantes, motins, revoltas ocorridos na América Portuguesa entre os séculos XVI e XVIII. Observe-a atentamente.
Cronologia de motins e rebeliões ocorridos entre os séculos XVI e XVIII realizada pelo historiador Luciano Figueiredo.
Cronologia de motins e rebeliões
Cronologia
Cronologia
c.1540 Levante de colonos e franciscanos contra o capitão-donatário de Porto Seguro Pero de Campos Tourinho acusado de concentrar poder.
1580? Santidade de Jaguaripe, BA.
1624-25 Restauração da Bahia.
1640 Portugal proclama d. João IV como rei. Expulsão de padres jesuítas de Santos e São Paulo. Ameaças de revoltas no Rio de Janeiro.
1641 Deposição do vice-rei, marquês de Montalvão, na Bahia. Motim militar no Rio de Janeiro.
1642 Revolta contra os holandeses no Maranhão.
1644 Motim contra o governador Luís Barbalho, no Rio de Janeiro.
1645 Insurreição Pernambucana contra o domínio holandês (duraria até 1654). Fundação do Quilombo de Palmares, que existiria/resistiria por 50 anos.
1650-1720 “Guerras Bárbaras” no Nordeste.
1652 Revolta de cativos índios em propriedades de São Paulo.
1654 Os holandeses são expulsos do Nordeste. Sublevações dos índios gês no Rio Grande do Norte e Cera.
1655 Motim em Guarupá, Maranhão.
1657 Motim de Jerônimo de Burgos contra o vigário de vara (expulso) em Sergipe.
1658 Revolta contra capitão-mor na capitania da Paraíba do Sul, Rio de Janeiro.
1660 Rebelioes de escravos indígenas em São Paulo. Motim em Sergipe. Início da Revolta da Cachaça, no Rio de Janeiro, que duraria até 1661.
1666 Deposição do governador de Pernambuco.
1671 Expulsão do Capitão-mor Pela Câmara de Sergipe
1680 Motim de soldados no Maranhão.
1684 Revolta de Beckman, no Maranhão.
1687 Rebelião de índios confederados de cinco capitanias do Nordeste.
1688 Revolta de Soldados do Terço Velho, Bahia. Levante de índios tapuias na Ribeira do Açu, Paraíba.
1689 Revolta de paulistas na vila de Porto Seguro, Bahia.
1689 Revolta de paulistas na vila de Porto Seguro, Bahia.
1692 Revolta de negros e paulistas, Vila do Camamu, Bahia. Rebelião dos janduís, índios gês, no Rio Grande do Norte e Ceará.
1697 Motim das Patacas em São Paulo, contra regulamentação do padrão monetário.
1699 Revolta de escravos jejes na Bahia.
1704 Motim contra autoridades reais que rearpiam terras minerais em Vila do Carmo, Minas Gerais.
1705 Revolta de soldados na Colônia do Sacramento.
1707 Motim em Sergipe. Início da Guerra dos Emboabas, Minas Gerais, que duraria até 1709.
1708 Motim contra contribuição para defesa da Colônia do Sacramento, Rio de Janeiro. Motim em Sergipe.
1710 Motim do Sal, em Santos. Início da Guerra dos Mascates, Pernambuco, que duraria até 1711.
1711 Revolta do Maneta, contra o preço do sal e direitos pagos pelo tráfico de escravos, e “Revolta Patriótica”, ambas na Bahia. Tentativa de revolta escrava em Furquim, Minas Gerais.
1712 Conspiração escrava (tentativa de rebelião) e motim contra ouvidor na vila do Ribeirão do Carmo, Minas Gerais. Motim de negros em Camamu e Maragugipe, Bahia.
1714 Revolta contra a cobrança do quinto em Sabará, Morro Vermelho e Vila Nova da Rainha, Minas Gerais.
1717 Motins no sertão do Rio das Velhas, Minas Gerias. Início da Revolta de Pitangui, Minas Gerais, que duraria até 1719.
1718 Motim de Catas Altas, Minas Gerais. Motim da Barra do Rio das Velhas, que duraria um ano.
1719 Conspiração escrava (tentativa de rebelião) na comarca do Rio das Mortes, Minas Grias. Nova Revolta em Pitangui.
1720 Revolta de Vila Rica, Minas Gerias; revolta de soldados na Colônia do Sacramento.
1722 Levante da Macaúbas e revolta na Vila de Papagaio. Ambas localidades de Minas Gerais.
1725 Instituição do sistema de casas de fundiçãopara cobrança do quinto. Conspiração escrava (tentativa de rebelião) em Minas Gerais. Revolta contra o ouvidor e cobrança do quinto em Jacobina, Bahia.
1726 Amotinamento dos regimentos de Pernambuco.
1728 Revolta do Terço Velho, na Bahia.
1730 Revolta donatário visconde de Asseca contra a Justiça real na vila de São Salvador da Paraíba do Sul, Rio de Janeiro. Revolta escrava em Catas Altas, Minas Gerias.
1731 Revolta em Cuiabá, Mato Grosso.
1732 Motins contra o ouvidor e autoridades em Acararu, Ceará.
1735 Instituição do sistema de capitação e censo de industrias para cobrança do quinto. Sublevação dos índios da aldeia da Baía da Traição e de negros na Paraíba. Sublevação dos Feitosa com índios genipapos no Ceará.
1736 Furores sertanejos, em Minas Gerais e na Bahia.
1742 Revolta de soldados no Rio Grande do Sul.
1746 Rebelião em Sapucaí, Minas Gerais. Sublevação da aldeia Reritiba, no Espírito Santo.
1748 Tumultos populares na vila de São Salvador da Praíba do Sul, Rio de Janeiro.
1752 Motim de oficiais mecânicos contra o ouvidor-geral da comarca de Ouro Preto.
1753 Revolta dos tapes.
1756 Grande conspiração escrava (tentativa de rebelião) em Minas Gerais.
É possível afirmar que:
Alternativas
A. a monarquia portuguesa teve grande facilidade em governar a Colônia a partir da Corte e de manter a ordem neste amplo território
B. havia uma massa de gente rebelde em toda parte da América Portuguesa.
C. a cronologia apresentada afirma um conjunto de rebeliões, revoltas e motins que ampliam a visão tradicional das inconfidências restritas ao final do século XVIII.
D. para entender a experiência do viver em colônia é necessário
ir além das explicações pautadas na seqüência dos ciclos econômicos.
Comentários
A interessante cronologia apresentada questiona o conceito de um Brasil Colônia pacífico, atravessado por rebeliões e revoltas apenas pontualmente. Pelo contrário, houve inúmeros levantes e motins, nem sempre ligados aos ciclos econômicos e tampouco concentrados unicamente no final do séculoXVIII.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - O
B - 1 PONTO
C - 4 PONTOS
D - 5 PONTOS
QUESTÃO 56:
Trecho do livro Cantores do Rádio – a trajetória de Nora Ney e Jorge Goulart e o meio artístico de seu tempo, de Alcir Lenharo (1946-1996), Campinas: Ed. Da Unicamp, 1995, pp 7-9, 11.
Cantores do rádio
Livro
“Ultimamente, a televisão tem trazido notícias pontuais sobre os cantores da era do rádio, cujo tratamento oscila de uma curiosidade pelo revival a uma falta absoluta de conhecimento sobre a vida desses artistas, bem como sobre o significado de suas carreiras durante a época em que mais brilharam, ou seja, durante os anos 50. […]
Não só não sabemos quase nada sobre elas, como desconhecemos a respeito do seu tempo, do gosto musical (entre outros gostos) que predominava na época, o jeito de ser dos brasileiros de então, ou ainda, como se dava o sistema estelar, muito ativo por sinal, e a maneira como se relacionavam fãs e artistas, numa época em que estes interferiam especialmente na vida cultural e social do país. […]
E, no entanto, raras vezes o país demonstrou um estado de espírito tão “artístico” – alegre e festivo, como nos anos 50. O público não arredava pé junto de seus ídolos, cujos sucessos eram conhecidos na ponta da língua, fossem as canções românticas ou carnavalescas, sambas e boleros, baiões ou versões; auditórios festivos, fãs-clubes espalhados pelo país, chanchadas aos domingos nos cinemas, discos vendidos em grande tiragem…e a vida particular dos artistas acompanhada e devassada pelas páginas das revistas especializadas e da imprensa marrom. […]
Para o historiador, é previsível que as curvas de qualidade de um determinado fenômeno cultural não se mantenham estáveis, ou apresentem descontinuidades. No entanto, exatamente essa constatação é que atrai seu olhar para a singularidade do que estuda. A desatenção de outros direciona as suas prospecções e o motiva para o desvendamento de suas curiosidades. É preciso levantar o véu que cobre os anos 50, na sua versão massiva, e duvidar da rapidez com que se fala nos cantores de rádio, assim como suas músicas são lançadas no esquecimento.
[…] Depois de anos e anos de pesquisa […] eu sentia cada vez mais a necessidade de estudar os ídolos do rádio, chegar junto ao universo da cultura massiva, homenagear os cantores de minha infância, é verdade, mas muito mais que isso, meter o dedo na produção social da memória, abrir espaços, resgatar a importância dos cantores populares para a vida de milhões de pessoas […] não é a grande política, nem os grandes acontecimentos da História oficial que me atraem para a captura do espírito do tempo e a essência de uma época.”
Alternativas
A. identifica a cultura de massas como um campo de estudo e pesquisa para o historiador e um importante fator para se compreender a história do Brasil recente.
B. indica que na década de 1950 havia no Brasil uma importante indústria de entretenimento e comunicação – rádio, cinema, indústria fonográfica e suas interconexões.
C. aponta para as motivações pessoais do historiador ao escolher seu tema de pesquisa.
D. critica a forma como a história popular, os meios de comunicação de massas e o star-system [sistema estelar] dos anos 50 foram pouco considerados pela historiografia vigente.
Comentário
A questão 56 prestou uma homenagem ao historiador Alcir Lenharo. Esse autor indica em seu texto, entre outras coisas, as motivações que o levaram a pesquisar o tema da cultura massiva na década de 50 e especialmente como esse tema do sistema do estrelato (star-system) e da presença dos meios de comunicação de massa na vida cotidiana e cultural do país foi por muito tempo desconsiderado pela historiografia nacional.
AUXÍLIO:
Sugestões de leitura - Alcir Lenharo (1946-1996)
Sugestões de leitura
O historiador Alcir Lenharo atuou no Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas até 1996, ano de seu falecimento.
Conheça outras obras desse historiador:
Alcir Lenharo. As tropas da moderação – o abastecimento da Corte na formação política do Brasil, 1808-1842. São Paulo: Edições Símbolo, 1979, na qual realiza um estudo acerca do desenvolvimento da economia agrária do Sul de Minas, levando em conta a atuação dos tropeiros e do capital privado na formação política da região e dos partidos do Império, que auxiliam a entender por que a região se subleva contra a Corte em 1842.
Alcir Lenharo. A sacralização da política. Campinas: Papirus, 1986, livro no qual estuda os processos pelos quais o Estado Novo associa o Estado a um “corpo” que trabalha (a nação), semelhante às liturgias cristãs do “corpo de Cristo”, trazendo à luz novos aspectos da política trabalhista e do sistema indireto de eleições, pelos quais se promoveu um controle dos trabalhadores e uma aparente democracia.
Alcir Lenharo. Nazismo: o triunfo da vontade. São Paulo: Ática, 1988, que investiga o papel dos meios de comunicação de massa e da estética, na propagação do ideário nazista e a aceitação popular alemã desse mesmo ideário.
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 4 PONTOS
B - 1 PONTO
C - 1 PONTO
D - 5 PONTOS
QUESTÃO 57:
Trecho de capítulo de livro intitulado Recife: espelhos do passado e labirintos do presente, de Antonio Paulo Rezende. In: Gilda M. W. Verri e Jomard M. Britto (orgs.). Relendo o Recife de Nassau. Recife: Bagaço, 2003. p.96.
Recife: espelhos do passado e labirintos do presente
Capítulo de livro
“O envolvimento com o tempo, a construção de lembranças e esquecimentos são operações da escrita da história. O Recife não escapa dessas operações. (…) Quem pode esquecer todo um imaginário que se criou a partir dos feitos de João Maurício de Nassau? Até hoje se discute e a cidade não teria um outro destino, caso continuasse sob o ‘progressista” domínio dos flamengos. Na história do Recife, o passado tem uma presença, praticamente, demolidora com relação aos seus projetos para o futuro. (…) Os mortos parecem governar os vivos, imobilizar seus sentimentos, frustrar seus desejos, desfigurar suas utopias. Fala-se do Recife Antigo como se ele tivesse um encanto inusitado, como uma condenação às trivialidades do Recife Moderno. Assim, a cidade sobrevive e não consegue ultrapassar os limites que a memória dominante lhes impõe.”
O texto acima:
A. refere-se às tensões entre a memória sobre o passado e as relações do tempo presente na capital de Pernambuco.
B. indica que a operação da escrita da história também se faz como esquecimento.
C. critica a maneira como é valorizado o imaginário sobre a influência de João Maurício de Nassau no Recife.
D. afirma a independência dos recifenses em relação ao culto de seu passado, o que inviabiliza o surgimento do novo.
VALOR DAS RESPOSTAS
A - 4 PONTOS
B - 5 PONTOS
C - 1 PONTO
D - 0
QUESTÃO 58:
O texto a seguir refere-se a processos ocorridos no Rio Grande do Sul (1835-1845) e o relaciona com episódios históricos comuns às antigas colônias espanholas na Região do Rio da Prata, cujo centro estava em Buenos Aires.
Trecho de artigo acadêmico intitulado Textos e lenços: representações de federalismo na república rio-grandense (1836-1845) de César Augusto Barcellos Guazzelli. Revista Almanack Brasiliense. No.1. Maio de 2005. Disponível em:http://www.almanack.usp.br/neste_numero/index.asp?numero=1
Guerra dos Farrapos
Artigo acadêmico
Documento da 4ª Fase
A Guerra dos Farrapos foi a mais longa rebelião do período regencial, e durante quase dez anos os rebeldes do Rio Grande do Sul buscaram legitimar seu movimento contra o Império do Brasil. Neste sentido, as idéias liberais, republicanas e federalistas que haviam se difundido a partir da Revolução de Maio no Rio da Prata, ganharam corpo entre algumas lideranças da República Rio-Grandense. Cientes de que a imprensa poderia se constituir num veículo eficiente de propaganda, foram sucessivamente editados os periódicos oficiais do governo insurreto. Além dos textos, havia também a influência dos símbolos que se difundiram nos países platinos, especialmente a cor vermelha. Incorporada na bandeira dos republicanos rio-grandenses, compondo com o verde-amarelo herdado do pendão imperial, o símbolo tricolor foi tornado obrigatório. Para a plebe que compunha as tropas, era mais fácil o uso de lenços vermelhos ao pescoço, uso que atravessaria o século XIX.
Alternativas
A. os Farrapos tentaram se incorporar aos governos da região platina, separando-se do Brasil.
B. os rio-grandenses valiam-se das idéias republicanas e federalistas dos vizinhos, defendendo maior autonomia política para as respectivas regiões.
C. a Guerra dos Farrapos se insere nos processos políticos de luta pela independência e autonomia nas antigas colônias espanholas e portuguesas na primeira metade do século XIX.
D. a tradição do lenço vermelho, usado ainda hoje como símbolo da identidade gaúcha, remete aos processos de independência das províncias na parte sul da América
Comentário
VALOR DAS RESPOSTAS
A - 0
B - 4 PONTOS
C - 1 PONTO
D - 5 PONTOS
QUESTÃO 59:
Em seu livro “Os Excluídos”, o historiador José Roberto do Amaral Lapa (1929-2000) abordou a questão da pobreza urbana, afirmando:
Trechos do livro de José Roberto do Amaral Lapa. Os excluídos: contribuição à história da pobreza no Brasil (1850-1930). Campinas: Editora da Unicamp, 2008, pp. 18, 25, 50.
Os excluídos
Livro
“Na produção acadêmica sobre a pobreza no Brasil, as abordagens em geral não conseguiram fugir de um viés que se define pelo sistema de produção, em cuja inserção os trabalhadores sinonimizam os pobres. Fora desse esquema, já se cai na marginalidade e, portanto, aí os pobres são identificados com banditismo, o crime, a prostituição, a mendicância e outros fenômenos da patologia social, constituindo a classe perigosa.
(…) No período que estudamos (1850-1930), a pobreza existe ostensiva (…)Para o século XIX, partindo do pressuposto de que nem todo pobre é escravo, assim como no século XX nem todo pobre é operário e nem todo operário é pobre, privilegiar especificamente a classe pauperizada, em termos de um sistema escravista, parece-nos um modo de oferecer novo objeto de estudo para a compreensão da sociedade brasileira em etapas decisivas de sua formação.
(…)
(…) O universo da pobreza possuía uma gama de categorias sociais, embora naturalmente oferecesse problemas comuns para os quais as soluções poderiam ser também comuns, requerendo, por sua vez, tratamento específico. Assim, órfãos e(barra) menores abandonados, enfermos e loucos adultos, mães solteiras e velhos inválidos, delinquentes e mendigos povoam esse universo, reclamando da sociedade, portanto, o aparato capaz de contê-los, confiná-los e mantê-los, discipliná-los enfim. É um esforço geral, mobilizador de vontades e recursos, de espaços e benfeitorias, de planejamentos e estratégias, de palavras e atos, no qual mais uma vez a iniciativa privada tomava a dianteira do estado em termos de assistência social.”
Trecho de artigo de jornal "Em 2008, bancos tiveram mais ajuda do que países pobres em 50 anos", Redação Carta Maior. 25/06/2009 Disponível em:http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/em-2008-bancos-tiveram-mais-ajuda-que-pobres-em-50-anos
Em 2008, bancos tiveram mais ajuda do que países pobres em 50 anos
Artigo de jornal
“Em 2008, bancos tiveram mais ajuda do que países pobres em 50 anos
Segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), enquanto os países pobres receberam, em meio século, cerca de US$ 2 bilhões em doações de países ricos, bancos e outras instituições financeiras ganharam, em apenas um ano, US$ 18 bilhões em ajuda pública. A ONU alertou que a crise econômica mundial piorará ainda mais a situação dos países mais pobres, agravando os problemas da fome, da desnutrição e da pobreza.
O setor financeiro internacional recebeu, apenas em 2008, quase dez vezes mais recursos públicos do que todos os países pobres do planeta nos últimos cinqüenta anos. O dado foi divulgado nesta quarta-feira (24/6-2008) pela campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) pelas Metas do Milênio, destinada a combater a fome e a pobreza no mundo. Enquanto os países pobres receberam, em meio século, cerca de US$ 2 bilhões em doações de países ricos, bancos e outras instituições financeiras ganharam, em apenas um ano, US$ 18 bilhões em ajuda pública.
A ONU alertou que a crise econômica mundial piorará ainda mais a situação dos países mais pobres, lembrando que, na semana passada, a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) afirmou que a crise deixará cerca de 1 bilhão de pessoas passando fome no mundo.
(…)
Do total de pessoas subnutridas hoje no mundo, 642 [milhões] concentram-se na Ásia e na região do Pacífico e outras 265 milhões vivem na África Subsaariana. Na América Latina e Caribe, esse número é de 53 milhões de pessoas. Em 2008, o total de desnutridos tinha caído de 963 milhões para 915 milhões. O motivo foi uma melhor distribuição dos alimentos, Mas com a crise, o quadro de fome no mundo voltará a se agravar. Segundo a estimativa da ONU, um milhão de pessoas deverão passar fome no mundo nos próximos meses.”
Veja a charge.
Charge - Angeli
Charge

A partir dos textos, podemos afirmar que:
Alternativas
A. o texto do historiador Amaral Lapa indica a pobreza como uma condição não imediatamente associada à classe social.
B. ambos os textos indicam estratégias de assistência que, incapazes de erradicar a pobreza, limitam-se a administrá-la.
C. dados recentes indicam que no planeta todo, aproximadamente 2,6 bilhões de pessoas vivem com uma renda de menos de US$ 2 por dia.
D. a reportagem revela um mapa da fome mundial e a distribuição desigual e ineficiente dos aportes financeiros.
Comentário
VALOR DAS RESPOSTAS:
A - 1 PONTO
B - 5 PONTOS
C - 4 PONTOS
D - 1 PONTO
QUESTÃO 60: TAREFA
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